O Bom Professor
Quase todo mundo que estuda música o faz porque deseja aprender mais a fundo teoria e técnica instrumental. Em geral, podemos dizer que quem estuda quer tocar bem, afinal, é isso que se espera de um bom músico. E, realmente, é o que acontece quando dedicamos muitas horas por dia, repetidamente, ao manuseio de um instrumento: a tendência é o aprimoramento. No entanto, enquanto se estuda música, ampliamos nossa percepção sobre seus diversos aspectos na sociedade e, muitas vezes, observando nossos professores, percebemos que o caminho mais comum é, um dia, nos tornarmos professores também.​
Quando comecei a dar aulas, tinha vontade de ensinar tudo para os alunos. Aos poucos, percebi que 90% deles querem apenas aprender alguns acordes e batidas rítmicas de seus estilos favoritos. Mas isso não me desmotivou a querer torná-los grandes músicos. Minha motivação e paciência com os iniciantes fizeram com que eu acumulasse dezenas de alunos nos primeiros meses. Então, passei a me perguntar: o que um aluno quer? Como seria um bom professor de música? Como seria o melhor professor de música? Sempre tive como referência meus professores — alguns incríveis, outros nem tanto — e também as fases do meu próprio aprendizado. O começo precisa ser divertido, porque é isso que motiva alguém a querer saber mais.
Fiz uma lista de elementos que me ajudariam a atingir meus objetivos como professor. Entre os tópicos, inclui um tablet com internet para consultar músicas e ensinar conforme o interesse do aluno, uma parte teórica que introduzisse escalas básicas e a abertura para ensinar tudo o que o aluno quisesse aprender. Foi assim que conheci muitas pessoas — algumas bem influentes, seus filhos, e também pessoas já aposentadas que buscavam no violão um refúgio ou um momento de lazer perdido no tempo. Percebi que o aprendizado musical envolve muito da psicologia de cada indivíduo. Cada um tem um motivo único para aprender um instrumento, seja reviver uma memória emocional, buscar a juventude perdida ou, mais raramente, o domínio técnico da música.
Ensinar música me trouxe uma alegria imensa. Eu sentia que fazia algo construtivo para a sociedade. Dei aulas para amigos, parentes, vizinhos e em escolas de música e escolas infantis.
E os anos foram passando e alguns alunos ficaram. Tornaram-se queridos, quase como parentes, e eu queria vê-los crescer. Mas comecei a me perguntar: eles realmente estavam aprendendo? Poderiam seguir sem mim? Assim, percebi as diferentes relações que os alunos desenvolvem com seus professores de música. Ao motivá-los constantemente, o professor pode se transformar em algo como um personal trainer, onde a prática musical depende unicamente de sua presença. Isso pode transformar a relação com a música em algo rígido e mecânico, destruindo a oportunidade de um vínculo prazeroso.
Após essas reflexões, comecei a questionar: o que um bom professor de música quer? Sempre me lembro do filme A Noite Sonhamos, sobre Chopin e seu professor, que o levou a Paris para brilhar. A resposta, afinal, é simples: um bom professor quer um bom aluno. Não precisa ser um virtuoso como Chopin, mas alguém atento e interessado o suficiente para aprender. Diferentemente do esforço físico que a prática musical exige, há uma parte cognitiva que pode ser mais leve do que muitas matérias escolares. O sucesso de um professor, portanto, é ver um aluno que anima uma festa com seu instrumento, que conhece as notas musicais, tem autonomia para ler musicas sozinho e busca superar a si mesmo. Ou um aluno que consegue aquilo que queria com seu instrumento. Como falei no início do texto: quem estuda música quer tocar bem! Costumo falar para os alunos “O meu sucesso é o seu sucesso”.
Na atualidade, surgem diversas formas de terapia que utilizam a música como ferramenta central. O simples ato de conviver em um grupo musical já pode se tornar uma experiência terapêutica em meio às demandas do cotidiano. No entanto, como professores, é essencial não perder de vista a quem servimos: à música. E, como indivíduos, não podemos esquecer o que buscamos — o constante aprimoramento e a redescoberta de novos significados. Esse caminho de aprendizado nos impulsiona a sair de uma zona de conforto em busca de um conforto maior que passa pelo estudo das notas musicais,suas combinações que, como vibrações sonoras, carregam em si símbolos e efeitos que revelam um universo de possibilidades e sentidos. Existe aquele ditado que explica tudo:
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"Quando o discípulo está pronto o mestre aparece”